Leonardo Boff [*]
07.12.2009
Em Copenhague os 192 representantes dos povos vão se confrontar com uma irreversibilidade: a Terra já se aqueceu, em grande, por causa de nosso estilo de produzir, de consumir e de tratar a natureza. Só nos cabe adaptamo-nos às mudanças e mitigar seus efeitos perversos.
O normal seria que a humanidade se pergunta, tal como um médico faz ao seu paciente: por que chegamos a esta situação? Importa considerar os sintomas e identificar a causa. Errôneo seria tratar dos sintomas deixando a causa intocada continuando a ameaçar a saúde do paciente.
É exatamente o que parece estar ocorrendo em Copenhague. Procuram-se meios para tratar os sintomas, mas não se vai à causa fundamental. A mudança climática com eventos extremos é um sintoma produzido por gases de efeito estufa que tem a digital humana. As soluções sugeridas são: diminuir as porcentagens dos gases, mais altas para os países industrializados; e mais baixas para os em desenvolvimento; criar fundos financeiros para socorrer os países pobres e transferir tecnologias para os retardatários. Tudo isso no quadro de infindáveis discussões que emperram os consensos mínimos.
Estas medidas atacam apenas os sintomas. Há que se ir mais fundo, às causas que produzem tais gases prejudiciais à saúde de todos os viventes e da própria Terra. Copenhague dar-se-ia a ocasião de se fazer com coragem um balanço de nossas práticas em relação com a natureza, com humildade reconhecer nossa responsabilidade e com sabedoria receitar o remédio adequado. Mas, não é isto que está previsto. A estratégia dominante é receitar aspirina para quem tem uma grave doença cardíaca ao invés de fazer um transplante.
Tem razão a Carta da Terra quando reza: "Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo... Isto requer uma mudança na mente e no coração". É isso mesmo: não bastam remendos; precisamos recomeçar, quer dizer, encontrar uma forma diferente de habitar a Terra, de produzir e de consumir com uma mente cooperativa e um coração compassivo.
De saída, urge reconhecer: o problema em si não é a Terra, mas nossa relação para com ela. Ela viveu mais de quatro bilhões de anos sem nós e pode continuar tranquilamente sem nós. Nós não podemos viver sem a Terra, sem seus recursos e serviços. Temos que mudar. A alternativa à mudança é aceitar o risco de nossa própria destruição e de uma terrível devastação da biodiversidade.
Qual é a causa? É o sonho de buscar a felicidade que se alcança pela acumulação de riqueza material e pelo progresso sem fim, usando para isso a ciência e a técnica com as quais se pode explorar de forma ilimitada todos os recursos da Terra. Essa felicidade é buscada individualmente, entrando em competição uns com os outros, favorecendo assim o egoísmo, a ambição e a falta de solidariedade.
Nesta competição os fracos são vitimas daquilo que Darwin chama de seleção natural. Só os que melhor se adaptam, merecem sobreviver, os demais são, naturalmente, selecionados e condenados a desaparecer.
Durante séculos predominou este sonho ilusório, fazendo poucos ricos de um lado e muitos pobres do outro à custa de uma espantosa devastação da natureza.
Raramente se colocou a questão: pode uma Terra finita suportar um projeto infinito? A resposta nos vem sendo dada pela própria Terra. Ela não consegue, sozinha, repor o que se extraiu dela; perdeu seu equilíbrio interno por causa do caos que criamos em sua base físico-química e pela poluição atmosférica que a fez mudar de estado. A continuar por esse caminho, comprometeremos nosso futuro.
Que se poderia esperar de Copenhague? Apenas essa singela confissão: assim como estamos não podemos continuar. E um simples propósito: Vamos mudar de rumo. Ao invés da competição, a cooperação. Ao invés de progresso sem fim, a harmonia com os ritmos da Terra. No lugar do individualismo, a solidariedade generacional. Utopia? Sim, mas uma utopia necessária para garantir um porvir.
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Adital - Começou hoje (7), em Copenhague, Dinamarca, a 15ª Conferência das Partes (COP-15) da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança Climática. Para muitos dos cientistas presentes, a população do mundo só possui cerca de dez anos para reverter o aumento global da emissão de gases antes que a mudança climática se torne incontrolável. Organizações ambientais apoiaram a posição.
A Campanha Global pelo Clima deverá realizar, no próximo dia 12, em Copenhague, atividades para mostrar a necessidade de se tomar ações urgentes e efetivas contra o aumento do clima global. Essa é, segundo o organismo, a "reunião mais importante jamais celebrada".
"Demandamos aos líderes mundiais que tomem as ações urgentes e resolutivas que necessitamos para prevenir a catastrófica desestabilização do clima global, para que mundo inteiro possa se unir tão rapidamente quanto seja possível para um tratado para redução de emissões mais ambicioso, que seja tanto equitativo como efetivo, para prevenir uma mudança climática perigosa", posicionou-se.
Para o diretor do Greenpeace Espanha, Juan López de Uralde, o tratado final dever ser legalmente vinculante e deve incluir um recorte de emissões, por parte das nações industrializadas, de 40% para 2020, sobre os níveis de 1990.
"Neste momento, a vontade política é o único que consideramos em falta. As negociações para combater a mudança climática nunca tiveram uma oportunidade como essa, e não deve ser desperdiçada", declarou Uralde.
O Greenpeace recomenda que os países industrializados gastem, anualmente, 140 bilhões de dólares estadunidenses para que os países em desenvolvimento possam lutar contra os efeitos da mudança climática e deter a desflorestamento. Para o organismo, o fim do desflorestamento dos bosques tropicais deve ser obtido até 2020.
A organização ambiental ainda defendeu que os países empobrecidos devem reduzir o crescimento de suas emissões de gases de efeito estufa entre 15% e 30% para 2020, com o apoio dos países desenvolvidos.
O evento, que se encerra no próximo dia 18, teve 34 mil inscritos, segundo os organizadores. Entretanto, a capacidade do Bella Center, sede da conferência, é de 15 mil pessoas. Ao todo, 96 chefes de Estado confirmaram sua presença.
O documento final da COP-15 deverá substituir o Protocolo de Kyoto e terá validade de 2012 a 2020.
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07.12.2009
Em Copenhague os 192 representantes dos povos vão se confrontar com uma irreversibilidade: a Terra já se aqueceu, em grande, por causa de nosso estilo de produzir, de consumir e de tratar a natureza. Só nos cabe adaptamo-nos às mudanças e mitigar seus efeitos perversos.
O normal seria que a humanidade se pergunta, tal como um médico faz ao seu paciente: por que chegamos a esta situação? Importa considerar os sintomas e identificar a causa. Errôneo seria tratar dos sintomas deixando a causa intocada continuando a ameaçar a saúde do paciente.
É exatamente o que parece estar ocorrendo em Copenhague. Procuram-se meios para tratar os sintomas, mas não se vai à causa fundamental. A mudança climática com eventos extremos é um sintoma produzido por gases de efeito estufa que tem a digital humana. As soluções sugeridas são: diminuir as porcentagens dos gases, mais altas para os países industrializados; e mais baixas para os em desenvolvimento; criar fundos financeiros para socorrer os países pobres e transferir tecnologias para os retardatários. Tudo isso no quadro de infindáveis discussões que emperram os consensos mínimos.
Estas medidas atacam apenas os sintomas. Há que se ir mais fundo, às causas que produzem tais gases prejudiciais à saúde de todos os viventes e da própria Terra. Copenhague dar-se-ia a ocasião de se fazer com coragem um balanço de nossas práticas em relação com a natureza, com humildade reconhecer nossa responsabilidade e com sabedoria receitar o remédio adequado. Mas, não é isto que está previsto. A estratégia dominante é receitar aspirina para quem tem uma grave doença cardíaca ao invés de fazer um transplante.
Tem razão a Carta da Terra quando reza: "Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo... Isto requer uma mudança na mente e no coração". É isso mesmo: não bastam remendos; precisamos recomeçar, quer dizer, encontrar uma forma diferente de habitar a Terra, de produzir e de consumir com uma mente cooperativa e um coração compassivo.
De saída, urge reconhecer: o problema em si não é a Terra, mas nossa relação para com ela. Ela viveu mais de quatro bilhões de anos sem nós e pode continuar tranquilamente sem nós. Nós não podemos viver sem a Terra, sem seus recursos e serviços. Temos que mudar. A alternativa à mudança é aceitar o risco de nossa própria destruição e de uma terrível devastação da biodiversidade.
Qual é a causa? É o sonho de buscar a felicidade que se alcança pela acumulação de riqueza material e pelo progresso sem fim, usando para isso a ciência e a técnica com as quais se pode explorar de forma ilimitada todos os recursos da Terra. Essa felicidade é buscada individualmente, entrando em competição uns com os outros, favorecendo assim o egoísmo, a ambição e a falta de solidariedade.
Nesta competição os fracos são vitimas daquilo que Darwin chama de seleção natural. Só os que melhor se adaptam, merecem sobreviver, os demais são, naturalmente, selecionados e condenados a desaparecer.
Durante séculos predominou este sonho ilusório, fazendo poucos ricos de um lado e muitos pobres do outro à custa de uma espantosa devastação da natureza.
Raramente se colocou a questão: pode uma Terra finita suportar um projeto infinito? A resposta nos vem sendo dada pela própria Terra. Ela não consegue, sozinha, repor o que se extraiu dela; perdeu seu equilíbrio interno por causa do caos que criamos em sua base físico-química e pela poluição atmosférica que a fez mudar de estado. A continuar por esse caminho, comprometeremos nosso futuro.
Que se poderia esperar de Copenhague? Apenas essa singela confissão: assim como estamos não podemos continuar. E um simples propósito: Vamos mudar de rumo. Ao invés da competição, a cooperação. Ao invés de progresso sem fim, a harmonia com os ritmos da Terra. No lugar do individualismo, a solidariedade generacional. Utopia? Sim, mas uma utopia necessária para garantir um porvir.
* Teólogo, filósofo e escritor
[Autor de Homem: Satã ou Anjo bom?, Record 2008].
[Autor de Homem: Satã ou Anjo bom?, Record 2008].
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Começa, em Copenhague, cúpula sobre o clima
07.12.09 - MUNDO
Adital - Começou hoje (7), em Copenhague, Dinamarca, a 15ª Conferência das Partes (COP-15) da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança Climática. Para muitos dos cientistas presentes, a população do mundo só possui cerca de dez anos para reverter o aumento global da emissão de gases antes que a mudança climática se torne incontrolável. Organizações ambientais apoiaram a posição.
A Campanha Global pelo Clima deverá realizar, no próximo dia 12, em Copenhague, atividades para mostrar a necessidade de se tomar ações urgentes e efetivas contra o aumento do clima global. Essa é, segundo o organismo, a "reunião mais importante jamais celebrada".
"Demandamos aos líderes mundiais que tomem as ações urgentes e resolutivas que necessitamos para prevenir a catastrófica desestabilização do clima global, para que mundo inteiro possa se unir tão rapidamente quanto seja possível para um tratado para redução de emissões mais ambicioso, que seja tanto equitativo como efetivo, para prevenir uma mudança climática perigosa", posicionou-se.
Para o diretor do Greenpeace Espanha, Juan López de Uralde, o tratado final dever ser legalmente vinculante e deve incluir um recorte de emissões, por parte das nações industrializadas, de 40% para 2020, sobre os níveis de 1990.
"Neste momento, a vontade política é o único que consideramos em falta. As negociações para combater a mudança climática nunca tiveram uma oportunidade como essa, e não deve ser desperdiçada", declarou Uralde.
O Greenpeace recomenda que os países industrializados gastem, anualmente, 140 bilhões de dólares estadunidenses para que os países em desenvolvimento possam lutar contra os efeitos da mudança climática e deter a desflorestamento. Para o organismo, o fim do desflorestamento dos bosques tropicais deve ser obtido até 2020.
A organização ambiental ainda defendeu que os países empobrecidos devem reduzir o crescimento de suas emissões de gases de efeito estufa entre 15% e 30% para 2020, com o apoio dos países desenvolvidos.
O evento, que se encerra no próximo dia 18, teve 34 mil inscritos, segundo os organizadores. Entretanto, a capacidade do Bella Center, sede da conferência, é de 15 mil pessoas. Ao todo, 96 chefes de Estado confirmaram sua presença.
O documento final da COP-15 deverá substituir o Protocolo de Kyoto e terá validade de 2012 a 2020.
Fonte: [ADITAL] Agência de Informação Frei Tito para a América Latina
www.adital.com.br_____________________________________
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