mércores, xaneiro 22, 2014

2014: Caos político mundial, "smog" estatístico, risco de explosão do planeta financeiro... – mas as soluções do futuro continuam a emergir

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2014: Caos político mundial, "smog" estatístico, risco de explosão do planeta financeiro...

– mas as soluções do futuro continuam a emergir
por GEAB [*]
22.01.2014


Os historiadores, os quais têm o hábito de considerar que o século XIX se estendeu de 1815 (Waterloo) a 1914 (primeira guerra mundial), certamente definirão o século XX pelo período 1914-2014, terminando pelo ano em que morre o antigo sistema enquanto o novo emerge. Neste novo ano de 2014, bem vindo portanto ao século XXI!

Havíamos colocado 2013 sob o signo dos "primeiros passos num mundo do depois em pleno caos" [1] . Um ano que foi com efeito o ano zero deste novo século e no fim do qual as soluções emergem por toda a parte. Neste começo de 2014, todos os projectos estão doravante apontados sobre a zona euro, a China, a Rússia, os BRICS onde ferramentas destinadas a moldar o "mundo do depois" são concebidas com uma rapidez incrível: o "mundo de antes" dá lugar ao "mundo de depois".

Contudo, subsiste o risco permanente de uma explosão por excesso de aquecimento do planeta financeiro decorrente dos incríveis desequilíbrios americanos... pouco ou nada resolvidos. E o período intermediário actual, certamente portador de esperança, não deixa de ser eminentemente perigoso. Um dos perigos reside no "smog" [2] estatístico que provavelmente caracterizará o ano: por um lado, os indicadores económicos e financeiros americanos perderam todo sentido à força de serem manipulados a fim de esconder a realidade catastrófica; e por outro, as ferramentas de transparência estatística do mundo emergente ainda não são suficientemente fiáveis para esclarecer correctamente a realidade. Por um lado colapso de visibilidade [que está] em curso desde há vários anos, por outro começo de organização da transparência de que a economia mundial precisa para planear suas estratégias, em 2014, estamos no fundo da vaga da compreensibilidade estatística. E isso não será sem consequências.

Plano completo do artigo:

1. "SMOG" ESTATÍSTICO
2. REASCENSÃO DAS TAXAS E QUEDA DO IMOBILIÁRIO NOS ESTADOS UNIDOS
3. FIM DAS EUFORIA NAS BOLSAS?
4. CAOS POLÍTICO
5. 2014, COMEÇO VISÍVEL DO FIM DA ERA DO PETRÓLEO
6. AS SOLUÇÕES ESTÃO EM MARCHA

Apresentamos neste comunicado público as partes 1 e 2.

"SMOG" ESTATÍSTICO


O período actual é particularmente difícil de analisar. As experiências de injecção de liquidez dos bancos centrais não têm praticamente equivalente histórico e agem insidiosamente tal como a morfina; as bolsas evoluem na proporção inversa à saúde económica dos países; a finança e os produtos derivados estão fora de todo controle; o Ocidente e particularmente os Estados Unidos tentam ocultar sua situação catastrófica graças a indicadores que já não querem dizer nada a exemplo dos números do desemprego. Já analisámos em profundidade este "fog estatístico" no GEAB nº 73 :   as bússolas do mundo antigo estão partidas.

Os mercados, alimentados pelo biberão do Fed e não desejando abandonar o paradigma do dólar enquanto existir o mínimo de sangue a sugar, são amplamente responsáveis por esta cegueira. Ora, tal como a rã na água que aquece não sente a temperatura subir senão quando é demasiado tarde, ter partido o termómetro certamente é prático para iludir mas responde a uma tendência suicidária: se a saída já é difícil de encontrar em plena luz, no escuro isso torna-se impossível. Já o dissemos, a zona euro tem tido a oportunidade de estar em plena luz durante vários anos graças à "crise do euro" e não camufla suas dificuldades sob a carreta das liquidezes [3] , oportunidade de que não beneficiam os Estados Unidos que se dirigem de olhos vendados para o precipício, como o veremos. [NT].

No período actual, um olho portanto está cego. O outro infelizmente ainda não está a ver. A parte do mundo que emergiu, os BRICS nomeadamente e a China em particular, apenas pôs-se a construir um aparelho estatístico adaptado às suas ambições internacionais. Sem contar que certos vícios ocidentais foram adoptados por estes países, como o recurso ao endividamento e a finanças desreguladas, o que faz correr novos perigos. Assim, a China começa a preocupar-se com o endividamento das suas administrações locais, dos seus "veículos de financiamento dos governos locais" [4] e com suas "finanças das sombras" ("shadow banking") de que todo o mundo ignorava a dimensão por falta de estatísticas fiáveis [5] . Este shadow banking é indispensável para financiar a actividade das pequenas empresas e colectividades locais e, por agora, incontrolável...

Daí o forte empenho de Pequim para ver claramente e chegar a regular este sector, como testemunha o trabalho estatístico recente executado a respeito pelo Gabinete nacional de auditoria, ou a maior transparência pedida aos estabelecimentos bancários chineses, ou ainda por exemplo a proibição por cinco anos às actividades locais de construir novos edifícios institucionais com financiamentos "da sombra" [6] . Mas apesar destes esforços de transparência que trarão rapidamente seus frutos, pois a situação internacional precisa de ver isso claro, ainda serão precisos anos para ter um aparelho estatístico fiável nestes países. Sem contar que o governo chinês ainda tem necessidade de zonas de sombra durante algum tempo: não se pode fazer a luz sem ter feito a limpeza prévia!

É portanto com grande prudência que os dirigentes devem avançar num caminho semeado de armadilhas ao longo o qual a ausência de indicadores fiáveis impede apreciar correctamente a situação. Toda antecipação/previsão/planificação é certamente ainda mais difícil. Contudo, se os países emergentes estão com dinâmicas extremamente poderosas que lhes permitem certos afastamentos, os passos em falsos podem implicar consequências dramáticas para os outros. Eis porque o Fed efectua um trabalho de equilibrista notável e este saltimbanco até o presente foi bastante dotado para manter o país sobre o filo... tanto que ainda existe um fio.

REASCENSÃO DAS TAXAS E QUEDA DO IMOBILIÁRIO NOS EUA


Enquanto isso, o século que acaba continua sua lenta agonia. Apesar de todas as acções do Fed, apesar do seu imenso programa de flexibilização quantitativa, as taxas de juro das obrigações americanas sobem outra vez de modo inexorável. Pormenorizamos as razões em Télescope e mostramos que esta tendência vai prosseguirem 2014.

Ora, um aumento de um ponto percentual nas taxas a 10 anos (de 3 para 4%) significa um aumento progressivo dos juros anuais a pagar sobre a dívida pública da ordem dos 100 a 150 mil milhões de dólares [7] , ou seja, cerca de 1% do défice público a compensar no momento em que o Fed começou a diminuir seu programa de recompra de obrigações. Mas isto não é o mais doloroso. O gráfico seguinte assinala algo muito mais perigoso.

A busca do aumento das taxas das obrigações americanas provoca com efeito um aumento semelhante nas taxas de contratação de empréstimos dos particulares. Em 2012, os empréstimos imobiliários a 30 anos estavam em torno dos 3,5%; agora estão em torno dos 4,5%; um ponto a mais faria com que chegassem aos 5,5%. Ora, a 3,5% uma família pode contrair um empréstimo de US$400.000 com mensalidades de US$1800, ao passo que a 5,5% ela não pode mais tomar emprestado senão US$317.000 com as mesmas mensalidades: seria preciso portanto cerca de 20% de baixa dos preços imobiliários (!) para manter um poder de compra constante... Como já se viu no GEAB nº 80, a inquietação a respeito começa a ser palpável [8] e 2014 verá uma baixa significativa dos preços do mercado imobiliário americano, como desenvolvemos em Télescope. Ora, toda a finança imobiliária funciona unicamente sob a hipótese de preços crescentes (viu-se em 2007-2008). Além disso, numerosos créditos ao consumo dos americanos são ligados à sua casa e uma fraqueza do mercado imobiliário propaga-se portanto ao conjunto da economia. Esta é a notícia realmente má deste começo de ano.

15/Janeiro/2014

Notas:
1. Título do GEAB n°70 (décembre 2012).
2. "Smog" designa a mistura de fumo (smoke) e nevoeiro (fog) que periodicamente cobria Londres na era da revolução industrial.
3. O que em grande parte explica seu crescimento mais fraco. Nos Estados Unidos, o crescimento oficial em 2013 foi apenas da ordem dos 400 mil milhões de dólares (cerca de 2,5% do PIB) quando o Fed injectou mais de 1000 mil milhões na economia... ou seja, uma "falta" de 600 mil milhões. Durante o mesmo período, o BCE retirou cerca de 1000 mil milhões de dólares (730 mil mil milhões de euros, fonte BCE) para um crescimento quase nulo, ou seja, um "ganho" de 1000 mil milhões. Quem está mal de saúde? Ver também o gráfico seguinte.
4. Fonte: Ecns.ch, 08/01/2014
5. Ler a este respeito e para o que se segue Les Échos (10/01/2014), Bloomberg (09/01/2014).
6 Fonte: La Croix , 30/07/2013.
7. Avaliado a partir da Wikipedia e tendo em conta a repartição da dívida estado-unidense por maturidades.
8. Ver também o artigo inquietante de MarketWatch (14/01/2014).

[NT] Criticar a condução da política económica dos EUA e louvar a situação europeia parece a história do roto a criticar o esfarrapado.

[*] Global Europe Anticipation Bulletin.

O original encontra-se em:

http://www.leap2020.eu/

Este comunicado encontra-se em:
http://resistir.info/ .
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