sábado, setembro 20, 2014

Será que Podemos em galego?, ... Por Valentim Fagim e José Ramom Pichel


Por Valentim Fagim e José Ramom Pichel [*]
20.09.2014


Uma das grandes surpresas nas recentes eleições europeias, Podemos, está-se a sediar na Galiza por meio dos Círculos, as entidades que agrupam aderentes de uma dada povoação.

Podemos está a contribuir, ao nosso ver com uma linguagem muito bem articulada, para identificarmos com claridade aqueles grupos humanos que, governe quem governar, são os que afinal sempre decidem: as elites económicas, técnicas e políticas de portas giratórias, hoje no governo, amanhã no grande empresariado. O que eles chamam de “Casta”.

Como método para combater a tal “Casta”, Podemos propõe a democracia direta dentro da própria organização. E isto para nós também é muito boa notícia.

Na Galiza, espaço onde se falam diariamente as duas línguas românicas com maior número de falantes, português (galego) e espanhol (castelhano), está a se debater a língua oficial de comunicação de cada círculo.  Alguns decidiram, para espanto de muitos, que a tal língua ia ser o castelhano.

Partindo da realidade inegável de o castelhano ser a língua cada vez mais comum nas gerações de galeg@s mais nov@s, estas decisões colocam a língua tradicional dos galegos, o galego, como uma língua de futuro complexo, apesar de ter uma projeção internacional, como se sabe, desaproveitada até o momento. Se não vale nem para comunicar com os galegos, então para que vale?

O único que não temos claro é se as pessoas que marcaram o castelhano como língua de comunicação oficial em Podemos, têm toda a informação das causas profundas para falarem uma língua diferente à das suas avoas. Os autores deste texto falávamos em castelhano até os 15 anos numa cidade como Vigo para depois mudar e assim reconectar-nos com elas.

Na altura, não éramos totalmente conscientes de porque falávamos castelhano. Talvez fosse por:
  • Ser a língua imposta pola “Casta” com as suas leis e decretos (p.e. já desde o 1768, na Real Cédula de Aranjuez de Carlos III que proíbe o ensino e os julgados noutra língua que não seja a castelhana)
  • Ser a língua que a “Casta” industrial e económica, que se expandiu sobretudo desde finais dos anos 60, a partir do “Plan de estabilización” franquista. Na Galiza, uma das suas consequências mais marcantes foi o êxodo do rural para as cidades galegas, e o início da perda de transmissão familiar da língua galega.
Nós não éramos conscientes de que os argumentos interiorizados polo mundo que nos rodeava: “en castellano para que nos entiendan todos”, “somos libres para hablar la lengua que queramos”, eram e são, na verdade, argumentos criados pola casta.  Argumentos desenhados para nada mudar, para não virem ameaçado o seu estatuto. Argumentos para transformar, no fundo, uma Galiza bilingue numa sociedade aborrecidamente monolingue em castelhano, como Madrid ou Múrcia.

Não éramos conscientes, como de tantas outras cousas, de que a língua que usávamos não nascia de uma decisão tão livre como gostávamos de crer.

[*] Publicado em PGL.gal, por Valentim Fagim e José Ramom Pichel a 3 de Julho de 2014 | Na página do Portal Galego da Língua hai comentários.
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