Que razom tem a tua vizinha falando na prensa de que te matou duas vezes. A tua morte, a tua trágica morte, vai envolta em celofane vermelho e nos entra polos olhos como a mais real das series televisivas.
A tua morte Isabel. Ti, que só aspiravas a ser feliz, que ansiavas os momentos de tranquilidade passo a passo coa tua vizinha, confidencia a confidencia, que iam narrando unha historia, um modelo de vida e de amor que nom era o teu. Ti nom contavas nada, nem o bom nem o malo. Porque sempre hai cousas boas e malas Isabel, a vida é assim, as relaçons som assim, ... O que nom deve haver é controle, humilhaçom, tortura, submissom, maltrato... que construíam o teu silencio, o teu frio e mortal silencio.
Por isso ti e mais eu sabemos que nom te matou duas vezes. Sabemos que ti, que todas vós, sodes mil vezes mortas! Mortas em vida, coa morte do silencio, coa morte do medo das noites, coa morte do medo dos dias, coa morte que impom a ira, coa morte que impom a humilhaçom, coa morte que impom a vergonha...
E mil vezes mortas na morte, pola morte que impom a cumplicidade, pola morte que impom a impunidade, pola morte que impom a indiferença, pola morte que impom o machismo que se disfarça, que se agocha, que nos engana... ate que se abalança sobre algumha de nós para lançar-nos a um caminho sem retorno, onde conformades umha estela de dor, que parece aumentar ate o infinito.
[*] Lupe Ces Rioboo -Caranza Ferrol 1958, é mestra, activista social, integrante da Marcha Mundial das Mulleres e da Rede Social de Ferrol Terra. Forma parte do Consello Editorial de Altermundo e do Colectivo Ártabra 21. Participa nas Marchas da Dignidade. e na Marea Artabra . Blogue persoal: Caranza free opiniom.
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