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domingo, febreiro 14, 2021

Identidades (a música), ... Por Ramiro Vidal Alvarinho


Por Ramiro Vidal Alvarinho [*]
14.02.2021


O papel da música na minha vida, na conformação da minha personalidade foi absolutamente chave...porque eu sou de uma geração na qual um procurava quem era a travês da música. Ser "alguma coisa" era bastante mais do que seguir os preceitos de uma estética... heavies, punkies, rockabillies, mods, skinheads, Rapers, rastaffaris, grunges... claro, havia disso tudo e tinham as suas formas de vestir, expressar-se... eu nunca segui uma estética concreta,ainda que com a idade fui deixando atrás a linha estética que me impunham os meus pais...abur camisas de raias, polos de botão de âncora e coisas absurdas e horríveis que à minha mai lhe pareciam bonitas e elegantes... tudo isso foi substituido por camisolas, tishertas e casacos, quase sempre de cores lisas e sem desenhos nem rótulos, predominando pretos e cinzentos, algum castanho, algum azul escuro...o verde e o vermelho tardaram em aparecer no meu vestiário. Com 18 anos, lembro que nem me punha calças de ganga; andava preferentemente com as calças de um fato de desportos, de cor lilás, com um parche dos Sex Pistols num joelho. Com frequência tinha guedelhas e barba cumprida e sem cuidar. Essa transformação começou quando eu tinha dezasseis anos e com dezaoito o meu aspecto já nada tinha a ver com o que tinha com catorze.

O primeiro vinilo que comprei foi "Donde se habla", de La Polla. Anteriormente, comprara os cassettes de "El regreso", de Siniestro Total e Música Doméstica" de Os Resentidos. Outros vinilos que fui comprando na minha adolescência; "Fracaso Tropical", de Os Resentidos; "Nin falta que fai", de Radio Océano; "Metalmorfosis", de Barón Rojo; "Azken guda dantza", de Kortatu...não me identificava com nenhuma tribo urbana, gostava da música mais bem potente, ainda que também eram importantes para mim as letras.

Foi um descobrimento para mim fundamental o Borrazás como ponto de partida das minhas troulas...houve um tempo no que as demos das bandas locais praticamente se "baptizavam" lá...gravavam demo MOL, Frustradicción, os Xudef Klas...sonavam aí...depois essa "função" cumpriu-a o Tápate las orejas, na Rua Doutor Fleming. Bons recordos do Bar Tracio, do Lakaroo, e dos bares da Rua São Francisco (Triple 6, Cataratas, Tambo, Barrio Sésamo).

Em todos esses garitos eduquei-me musicalmente a base de escutar coisas que desconhecia, a base de que me emprestaram discos, ou de comprar demos de bandas locais e galegas, preferentemente...

Fonte: conta facebook. | 13.02.2021 | Com interessantes comentários.

[*] Ramiro Vidal Alvarinho (Ferrol, 12 de marzo de 1973). Poeta, escritor, actor, e activista cultural.

Enviado por:
Inácio GZ
-inaciogz@gmail.com-
14 de fevereiro de 2021 09:02

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sábado, febreiro 13, 2021

Identidades, ... Ramiro Vidal Alvarinho

 


Vou falar de identidades e vou-lhe dedicar o post, de alguma maneira, a minha vizinha Coralia (bonito nome, com bonita história para uma pessoa também especial).

Por Ramiro Vidal Alvarinho [*]
13.02.2021


Vou fazer 48 anos o 12 de Março e levo morando na paróquia de Santaia de Lians (Oleiros) 34 anos...cheguei em Setembro de 87 a este recuncho do mundo. Levo pois, dous terços justos da minha vida a morar aquí. Lians era maioritariamente rural quando eu cheguei, e isto não quer dizer apenas que houvesse monte e árvores por toda a parte; quer dizer que era aldeia, havia vacas e leiras. Santa Cruz ainda tinha os últimos vestígios do seu passado marinheiro...caminhavas pela rua do Repicho e ainda havia chalupas apoiadas nas fachadas das casas... isso sim, os marinheiros eram todos gente de idade muito avançada. Não existia o passeio marítimo; ao final da rua do Repicho havia um pequeno embarcadoiro com o seu pequeno grupo de chalupas, as nasas ao pé da rampa, etc. Pelo outro lado estava o porto e o torreiro do hostal Maxi. À partir dos anos noventa aquilo começou a transformar-se; o primeiro grande câmbio foi a aparição da Praça de Lians... mas não me vou deter agora no tema urbanístico.

Cheguei, como digo, procedente de Ferrol e Narão, as localidades onde tinha residido anteriormente, a um Oleiros que era predominantemente rural e marinheiro, com a exceção de Santa Cruz e Perilho-Santa Cristina, que eram daquelas pequenos núcleos urbanizados... um Oleiros que tinha uma terça parte de população da que tem agora, mais ou menos... um bocado mais se calhar... 17.000 habitantes. Santa Cruz não foi fácil para mim, porque por algum estranho motivo causava certa rejeição o facto de que eu manifestasse sem complexos que vinha de Ferrol. Como não podia ser de outro jeito, o pessoal da minha idade em Santa Cruz movia os mesmos preconceitos e tópicos que na Corunha sobre a minha cidade natal... lugar pequeno, povo com ínfulas de vila, lá conhece-se todo o mundo, pailães, e todos os lugares comuns pejorativos que os habitantes dos focos urbanitas reservam para os habitantes que consideram ruralitas. Era curioso, porque eu vinha de um Ferrol que pouco antes alcançara a cifra de 100.000 habitantes...isto um par de anos antes de que a reconversão naval de 1985 lhe dera uma das óstias mais brutais que levou Ferrol na sua história. Um rapaz que vinha de uma cidade que tinha a metade de habitantes do que a cidade da Corunha e que, daquelas, tinha mais população do que Lugo ou Ponte Vedra, era qualificado de aldeão por pessoal que morava entre leiras, porque claro, eles consideravam-se da Corunha. Isto causava-me bastante asombro e não pouca frustração.

Por outra parte, era curioso e bastante desolador para mim, que já aos 14-15 anos tinha uma incipiente consciência galeguista, comprovar a imensa fenda que existia entre a rapazada das paróquias do Norte (Dexo, Inhãs, Mera) e as do Sul... como digo, a maior parte da que hoje é a minha paróquia, daquelas não estava nem asfaltada, andávamos entre hortas, por pistas de pedras e terra... mas a maioria do pessoal da minha idade falava castelhano, enquanto os do Norte falavam galego. Os de Santa Cruz e Perilho todos se consideravam da Corunha, ainda que na Corunha a dia de hoje nem de conha os consideram corunheses. Complexos absurdos.

Esta gente, que era tão da capital, o primeiro que fazia era fichar-te...notavam que andavas pelo povo e procuravam tirar-te informação...de onde vinhas e onde vivias. Nós passamos a ser os que viviam no chalé do Valenciano. Mas não te acolhiam facilmente, até o ponto de que eu tardei eu diria que quase vinte anos em deixar um bocado de lado o detalhe de que nasci em Ferrol. Durante muitos anos "eu era de Ferrol, mas morava em Santa Cruz".

Como digo, a integração não era fácil... quero dizer, no sentido de botar raizes e favorecer que tivesses sentimento de pertença. Digo mais; tratava-se melhor ao veraneante do que ao "venidero". O veraneante passava aquí quinze dias, ou um mês, mas era considerado um mais do povo e estava perfeitamente integrado...o "venidero" tinha que ganhar o seu lugar.

À partir de que tivem 18 anos fui-me integrando um bocado na vida associativa oleiresa e fui conhecendo o concelho mais aló de Lians, e isto fez que começara a sentir um maior aprezo por Oleiros... gosto de caminhar até Mera, ou até Lorbé, ou meter-me pelo bosque e sobir até Perilho... banhar-me nas praias da zona... também percorrer a ribeira da Ria do Burgo... e hoje posso dizer que, a força de conhecer, já considero isto o meu lar, sem deixar de sentir Ferrol como uma parte de mim (isto pode que muitos ainda não o compreendam).

Eu tanto em Santa Cruz como no resto de Oleiros conheço muita gente que paga a pena e muita gente que, francamente, não tanto. Entendo a quem lhe custe sentir-se daquí.

Fácil não é... eu à partir de que fiz a maioria de idade, ou talvez um pouco antes, os fins de semana fogia para Corunha, lá estava o ócio que realmente me interessava. Nos verões, não acodia nem às festas de Santa Cruz, nem às de Mera, nem às de Oleiros, nem a nenhuma de pela zona, a mim por essa época ardia-me o cu por ir a Pardinhas, a Ortigueira, a Moeche, ao Rock in Cambre, ao Foundation Reggae Festival... faço um à parte para dizer que guardo bons recordos da Festa Rachada (festival que organizava um coletivo das Juventudes Libertárias que se fazia chamar Coletivo Berro Seco) e dos concertos da Ocupa da Ria. Mas é certo que houve uma ampla etapa na minha vida onde, salvando estas duas últimas atividades que acabo de assinalar, o interessante estava fora.
Quando me fui fazendo adulto, integrei-me mais. O de sair sistematicamente à Corunha não era viável e comecei a socializar mais por aquí. Não oferece Santa Cruz demasiado ócio interessante para mim. É um lugar que dá possibilidades infinitas se gostas de patear ou passear. Desde logo, não há concertos, nos bares não põem rock and roll (se vos digo que me têm perguntado porquê não abro um garito de rock and roll em Santa Cruz...) e há um par de bares onde paro porque o pessoal que o leva é boa gente... um deles, por certo tem uma má fama eu diria que injustificada.

A diferença fundamental da Santa Cruz de hoje em dia com a Santa Cruz que encontrei sendo um adolescente da idade que têm agora as minhas sobrinhas, é que agora os "venideros" somos maioria, e portanto a gente tem que ir apreendendo a não fichar de maneira tão inquisitorial aos rostos novos que vão encontrando... isso sim, há coisas que não mudam, o pessoal de Santa Cruz sinte-se da Corunha, mas a gente que chega da Corunha para morar aquí diz que o pessoal de aquí é ainda muito aldeão, que se nota que isto há menos de quarenta anos ainda era "a argolha".

Fonte: conta facebook. | 11.02.2021

[*] Ramiro Vidal Alvarinho (Ferrol, 12 de marzo de 1973). Poeta, escritor, actor e activista cultural.

Enviado por:
Inácio GZ
-inaciogz@gmail.com-
12 de fevereiro de 2021 19:29

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