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luns, abril 13, 2015

Morreu o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano - Vídeo: Emir Sader entrevista Eduardo Galeano para o Repórter Brasil


O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano morreu hoje (13 de Abril de 2015) aos 74 anos, informaram os diários uruguaios 'El País' e 'Subrayado'. Galeano é considerado um dos maiores autores da literatura latino-americana. Ele estava internado em um hospital em Montevidéu e morreu devido a complicações de um câncer de pulmão, que já havia sido tratado em 2007.

Entre suas obras mais famosas estão 'As Veias Abertas da América Latina', 'Memórias do Fogo', 'Os Dias Seguintes', 'Crônicas Latino-Americanas'. Em suas obras, ele misturou os gêneros de ficção, jornalismo, análise política e histórica.

Galeano nasceu em 3 de setembro de 1940 em Montevidéu e começou a escrever aos 14 anos no jornal 'El Sol'. Em 1958, passou também a escrever crônicas de arte. Nos anos 1960, trabalhou como editor do jornal semanal 'Marcha' e no diário Época.

Após o golpe de estado em 1973, Galeano teve de deixar o Uruguai e foi viver na Argentina. Quando voltou ao seu país em 1985, ele fundou o semanário 'Brecha'.

Emir Sader entrevista Eduardo Galeano para o Repórter Brasil


https://youtu.be/2VG0Zxi1HO8


Publicado em 3 de ago de 2013

O jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano, acha que estamos vivendo uma ditadura do medo e que ela pode ser constatada nas revelações de Edward Snowden, ex-agente da CIA. Galeano afirma também que o episódio ocorrido com o avião do presidente boliviano, Evo Morales, mostra que o mundo está dividido entre indignos e indignados.

Obra de Eduardo Galeano foi referência para intelectuais latino-americanos

O escritor uruguaio Eduardo Galeano nasceu em 1940, em Montevidéu, no berço de uma família de classe média. Começou no jornalismo na década de 60, como chefe de redação e diretor dos jornais 'Marcha' e 'Época', ambos em sua cidade natal. Em 1971, Galeano publica sua obra mais conhecida, 'As Veias Abertas da América Latina', que se torna referência para compreensão das mazelas  do Continente.

Clássico entre os intelectuais da esquerda latino-americana, o livro analisa a América Latina desde sua origem. Na obra, Eduardo Galeano explica como a riqueza e fartura de toda uma região tornou-se sua ruína.

Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia. Nossa riqueza gerou sempre nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. […] o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”.

Após o golpe no Uruguai, em 1973, Galeano foi preso. Ao sair da cadeia, exilou-se na Argentina, onde dirigiu a revista 'Crisis', de viés político e cultural. Em 1976, mudou-se para a Espanha, com medo da repressão do regime militar do general argentino Jorge Videla.

Na Europa, começou a escrever a trilogia 'Memória do fogo', com os livros 'Os nascimentos', 'As caras e as máscaras' e 'O século do vento''. Com o fim da ditadura uruguaia, em 1985, ele retornou à Montevidéu.

Poucos são aqueles que décadas depois de entregar ao mundo uma grande criação, lembram dela e simplesmente dizem que “foi uma etapa que está superada”. Eduardo Galeano é um desses. E nem isso faz com que sua obra-prima, “As veias abertas da América Latina”, seja menos reverenciada.

O escritor lançou mais de 40 obras. Além das já citadas, algumas de suas principais publicações são 'De pernas pro ar', 'Dias e noites de amor e de guerra', 'Futebol ao sol e à sombra', 'O livro dos abraços', 'As palavras andantes' e 'Vagamundo'.

Em 1975 e 1978, Eduardo Galeano recebeu o prêmio Casa de Las Américas. A trilogia 'Memória do fogo' foi premiada pelo Ministério da Cultura do Uruguai em 1982, 1984 e 1986, anos de lançamento de cada um dos três livros. Nos Estados Unidos, o escritor e jornalista foi homenageado com o American Book Award, em 1989, e com o prêmio à Liberdade Cultural, da Lannan Foundation, em 1999. Em 2001, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade de Havana, de Cuba.

Galeano esteve no Brasil em 2014, quando abriu a 2ª Bienal do Livro de Brasília. Na ocasião, ele surpreendeu todos ao informar que não leria novamente “As veias abertas...”. “Para mim, a prosa da esquerda tradicional é pesadíssima. Meu físico [atual] não aguentaria. Eu cairia desmaiado”, brincou.

Eduardo Galeano morreu nesta segunda-feira (13.04.2015), em Montevidéu, aos 74 anos. Ele estava internado em um hospital na capital uruguaia e morreu devido a complicações de um câncer de pulmão, que já havia sido tratado em 2007.

Por Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil. | 13.04.2015

Fontes: Agência Brasil e Canle do Jornal Reporter Brasil.

Vídeos de interese: #EduardoGaleano.

O jornalista e escritor uruguaio no buscador libre DuckDuckGo.
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xoves, agosto 23, 2012

A Orde Criminal do Mundo - Paga a pena parar-se a escoitar e ver este interesante documentario, non nos deixará indiferentes - Vídeo


Documentario, moi actual e imprescindíbel para a areflexión e a acción,, realizado polo programa En Portada (da RTVE en 2008), sobre a orde mundial que goberna o mundo actual.

Poucas veces o título dun programa resumiu mellor o seu contido. Porque a chamada orde mundial non só é desapiadada e inxusta, senón criminal. Así o describen dous dos intelectuais máis lúcidos: o escritor uruguaio Eduardo Galeano e o sociólogo suízo Jean Ziegler, apoiados polos testemuños de personalidades que se enfrontan sobre o terreo as consecuencias desa orde criminal.

Seis anos atrás, cando comezamos a rodaxe desta reportaxe de En Portada, nada facía presaxiar as contradicións do capitalismo que acabarían desencadeando na crise financeira máis grave desde 1929, cuxos enormes retrocesos sociais estamos sufrindo. Con todo, xa entón resultaba evidente a perversión internacional do sistema económico, e dunhas institucións políticas sometidas aos designios dese deus cruel, implacable, todopoderoso, que denominamos libre mercado (O Capitalismo).

Galeano e Ziegler cuestionan ese ordenamento, que se presenta como o único razoable e indiscutíbel para construír o mellor dos mundos posíbeis. A inxustiza radical que latexa na base da repartición desigual en que se basea a economía mundial desenvolveu mecanismos amorales de dominio, a partir dunha doutrina -por non chamarlle ideoloxía- sen outros valores que os bolsistas, establecendo unha orde internacional que Ziegler define como mortífero e absurdo e, en palabras de Galeano, 'converteu ao mundo nun manicomio e un matadoiro'.


http://youtu.be/nyJrOcuPaqg


Guión: Vicente Romero
Imagen: Jesús Mata, Miguel del Hoyo
Sonido: Carlos Dias Oliván, Francisco Rueda.

Nota.- Quen son o escritor uruguaio Eduardo Galeano e o sociólogo suízo Jean Ziegler?

Web persoal de Eduardo Galeano:

http://eduardogaleano.org/

Eduardo Galeano no:

Buscador do Google.

Jean Ziegler no:

Buscador de Google.

O documentario no:

Buscador de Google.
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mércores, marzo 02, 2011

O escritor uruguaio Eduardo Galeano "a exitosa ditadura de medo que apresenta o mundo”, ao ser distinguido no México com a Medalha 1808 por sua “vida de coerência e compromisso"



O escritor uruguaio Eduardo Galeano "a exitosa ditadura de medo que apresenta o mundo”, ao ser distinguido no México com a Medalha 1808 por sua “vida de coerência e compromisso".

"Maldita seja a exitosa ditadura do medo que nos obriga a crer que a realidade é intocável e a solidariedade, uma doença mortal", disse Galeano no Antigo Palácio da Prefeitura da Cidade do México, ao receber a distinção das mãos do prefeito, Marcelo Ebrard.

Ao seu ver, “o melhor de viver está na capacidade de surpresa (…) quem poderia pressentir que os países árabes iam viver o furacão da liberdade que estão vivendo; quem ia acreditar que a praça (egípcia) de Tahrir ia dar ao mundo essa lição de democracia ", indagou.

E adicionou que “cada vez mais jovens sentem que o medo é uma prisão humilhante e chata, e livremente se atrevem a pensar com suas próprias cabeças, sentir com seus próprios corações e caminhas com suas próprias pernas".

O autor de “As veias abertas da América Latina” fez essas declarações durante um discurso no qual se referiu a independência, a dignidade e a transformação da história, informou a agência de notícias DPA.

O jornalista e escritor – exilado durante a ditadura militar uruguaia (1973-1985)- advertiu que o México “está sendo vítima da hipocrisia do narcotráfico universal, onde uns põe o nariz e outros põe os mortos e uns declaram a guerra e outros recebem os tiros".

Fonte:  Telam
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domingo, setembro 19, 2010

"Os sete pecados capitais de Occidente" - Entrevista con Eduardo Galeano

A xornalista Julia Gas entrevistou-se con Eduardo Galeano [*] ao paso do escritor uruguaio por Madrid.

Eduardo Galeano denunciou os sete "pecados capitais" da sociedade actual coa lectura de varias "historias con minúscula" que, como o propio autor recoñeceu, non pasarán a formar parte dos anais da Historia.

O autor d'As veas abertas de América Latina citou, en primeiro lugar, o racismo, "que produce amnesia". Porque todos somos, segundo Galeano, africanos emigrados. "De África só sabemos o que nos ensinou o señor Tarzán", pero foi alí onde "empezou a viaxe humana no mundo". Aínda que non é só unha cuestión de pel, explicou: "A guerra de Iraq tamén é racismo".

Tamén censurou a tradición machista, para o que se valeu dunha paradoxal anécdota da Revolución Francesa: os símbolos das vitorias pola defensa dos dereitos cidadáns eran femininos. En cambio, dixo, cando as mulleres reivindicaron os seus dereitos como cidadás foron pasadas pola guillotina.

A legalización do matrimonio homosexual en Arxentina, pioneiro en Latinoamérica, valeu-lle para criticar a intolerancia ao diferente, un pecado máis ao que sumou o desprezo ao traballo. Neste mundo ao revés, "onde as xornadas de traballo mídense cos reloxos derretidos de Salvador Dalí [...], é o prezo o que fixa o valor e non ao revés".

Os muros contemporáneos

Galeano tamén se referiu a "a tendencia dos medios de comunicación a mentir", polo que afirmou que o mundo mente. O escritor uruguaio reflexionou neste sentido sobre a importancia absoluta que se lle deu no seu momento ao muro de Berlín e o pouco que se fala actualmente sobre os muros da fronteira de México, de Ceuta e Melilla, de Cisxordania ou do Sahara Occidental. "Nin se coñecen", ironizou Galeano, que se cuestiona quen lanzou as bombas sobre Hiroshima e Nagashaki. "Sería Irán?".

Respecto da actual crise económica, Galeano comentou con sorna que tiña a impresión de que non fora responsabilidade dos especuladores de Wall Street, senón que "a culpa tena Grecia".

Sexto pecado: o mundo mata. "A paz mundial está en mans daqueles que fabrican máis armas". E hoxe en día, afirmou Galeano, invístese máis en gastos militares -"criminais", segundo el- que en acabar co fame. "Fabrícase fame: fame de pan, fame de abrazos".

Finalmente, o mundo fabrica inimigos, e fai-no a través do medo. "A democracia ten medo a recordar, as armas teñen medo á falta de guerra e os homes teñen medo á muller sen medo", concluíu Galeano, non sen antes recordar un devandito africano que reflicte que a man que dá sempre está arriba e a que recibe, abaixo. "Hai unha relación xerárquica", dixo para matizar dous conceptos crave: "A solidariedade é igualdade, a caridade é un risco".

[*] Eduardo Galeano, escritor e xornalista, alma crítica de América Latina e figura senlleira do movemento antiimperialista internacional. Entre os seus escritos máis coñecidos internacionalmente: a triloxía Memoria do lume (1986), O fútbol a sol e sombra (1995), As veas abertas de América latina (1971), Patas para arriba. A historia do mundo ao revés (1999).

Tirado de SinPermiso - 12.09.2010

Texto traducido, ao Galego, por Ártabra 21, apoiando-se nos recursos públicos de tecnoloxía lingüística desenvolvidos polo o Seminario de Lingüística Informática (SLI) da Universidade de Vigo.
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sábado, abril 24, 2010

Direitos humanos e direitos da natureza são da mesma dignidade


Eduardo Galeano [*]
24.04.2010

Que a Cimeira da Mãe Terra seja a primeira etapa para a expressão colectiva dos povos que não dirigem a política mundial...


Lamentavelmente, não poderei estar com vocês. Um pau atravessou na roda, o que me impede de viajar. Mas quero acompanhar de alguma maneira esta reunião de vocês, esta reunião dos meus, já que não tenho outro remédio do que fazer o pouco que posso e não o muito que quero.

E por estar assim, ao menos lhes envio estas palavras. Quero dizer-lhes que oxalá se possa fazer todo o possível, e o impossível também, para que a Cimeira da Mãe Terra seja a primeira etapa para a expressão colectiva dos povos que não dirigem a política mundial, mas a sofrem.

Oxalá sejamos capazes de levar adiante estas duas iniciativas do companheiro Evo, o Tribunal da Justiça Climática e o Referendo Mundial contra um sistema de poder baseado na guerra e no desperdício, que despreza a vida humana e põe bandeira de remate em nossos bens terrenos.

Oxalá sejamos capazes de falar pouco e fazer muito. Graves danos nos fez, e continua a causando, a inflação de palavras, que na América Latina é mais nociva do que a inflação monetária. E também, e sobretudo, estamos fartos da hipocrisia dos países ricos, que estão a deixar-nos sem planeta enquanto pronunciam pomposos discursos para dissimular o sequestro.

Há quem diga que a hipocrisia é o imposto que o vício paga à virtude. Outros dizem que a hipocrisia é a única prova da existência do infinito. E a discurseira da chamada “comunidade internacional”, esse clube de banqueiros e guerreiros, prova que as duas definições são correctas.

Quero comemorar, por outro lado, a força de verdade que irradiam as palavras e os silêncios que nascem da comunhão humana com a natureza. E não é por acaso que esta Cimeira da Mãe Terra acontece na Bolívia, esta nação de nações que está a redescobrir-se ao fim de dois séculos de vida mentirosa.

A Bolívia acaba de comemorar os dez anos da vitória popular na guerra da água, quando o povo de Cochabamba foi capaz de derrotar uma todo-poderosa empresa da Califórnia, dona da água por obra e graça de um governo que dizia ser boliviano e era muito generoso com o alheio.

Essa guerra da água foi uma das batalhas que esta terra continua a travar em defesa dos seus recursos naturais, ou seja: em defesa da sua identidade com a natureza.

Há vozes do passado que falam ao futuro.

A Bolívia é uma das nações americanas onde as culturas indígenas souberam sobreviver. E essas vozes ressoam agora com mais força do que nunca, apesar do longo tempo da perseguição e do desprezo.

O mundo inteiro, aturdido como está, perambulando como cego em tiroteio, teria de ouvir essas vozes. Elas nos ensinam que nós, os humanitos, somos parte da natureza, parentes de todos os que têm pernas, patas, asas ou raízes. A conquista europeia condenou por idolatria os indígenas que viviam essa comunhão, e por acreditar nela foram açoitados, degolados ou queimados vivos.

Desde aqueles tempos do Renascimento europeu, a natureza se converteu em mercadoria ou em obstáculo ao progresso humano. E até hoje esse divórcio entre nós e ela persiste, a ponto de ainda existir gente de boa vontade que se comove pela pobre natureza, tão maltratada, tão lastimada, mas vendo-a de fora.

As culturas indígenas a vêem de dentro. Vendo-a, me vejo. O que faço contra ela, faço contra mim. Nela me encontro, minhas pernas também são o caminho que a anda.

Celebremos, pois, esta cúpula da Mãe Terra. E oxalá os surdos ouçam: os direitos humanos e os direitos da natureza são dois nomes da mesma dignidade.

Voam abraços, desde Montevideu.

[*] Eduardo Galeano é jornalista e escritor uruguaio.
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Direitos humanos e direitos da natureza são da mesma dignidade


Eduardo Galeano [*]
24.04.2010

Lamentavelmente, não poderei estar com vocês. Um pau atravessou na roda, o que me impede de viajar. Mas quero acompanhar de alguma maneira esta reunião de vocês, esta reunião dos meus, já que não tenho outro remédio do que fazer o pouco que posso e não o muito que quero.

E por estar assim, ao menos lhes envio estas palavras. Quero dizer-lhes que oxalá se possa fazer todo o possível, e o impossível também, para que a Cimeira da Mãe Terra seja a primeira etapa para a expressão colectiva dos povos que não dirigem a política mundial, mas a sofrem.

Oxalá sejamos capazes de levar adiante estas duas iniciativas do companheiro Evo, o Tribunal da Justiça Climática e o Referendo Mundial contra um sistema de poder baseado na guerra e no desperdício, que despreza a vida humana e põe bandeira de remate em nossos bens terrenos.

Oxalá sejamos capazes de falar pouco e fazer muito. Graves danos nos fez, e continua a causando, a inflação de palavras, que na América Latina é mais nociva do que a inflação monetária. E também, e sobretudo, estamos fartos da hipocrisia dos países ricos, que estão a deixar-nos sem planeta enquanto pronunciam pomposos discursos para dissimular o sequestro.

Há quem diga que a hipocrisia é o imposto que o vício paga à virtude. Outros dizem que a hipocrisia é a única prova da existência do infinito. E a discurseira da chamada “comunidade internacional”, esse clube de banqueiros e guerreiros, prova que as duas definições são correctas.

Quero comemorar, por outro lado, a força de verdade que irradiam as palavras e os silêncios que nascem da comunhão humana com a natureza. E não é por acaso que esta Cimeira da Mãe Terra acontece na Bolívia, esta nação de nações que está a redescobrir-se ao fim de dois séculos de vida mentirosa.

A Bolívia acaba de comemorar os dez anos da vitória popular na guerra da água, quando o povo de Cochabamba foi capaz de derrotar uma todo-poderosa empresa da Califórnia, dona da água por obra e graça de um governo que dizia ser boliviano e era muito generoso com o alheio.

Essa guerra da água foi uma das batalhas que esta terra continua a travar em defesa dos seus recursos naturais, ou seja: em defesa da sua identidade com a natureza.

Há vozes do passado que falam ao futuro.

A Bolívia é uma das nações americanas onde as culturas indígenas souberam sobreviver. E essas vozes ressoam agora com mais força do que nunca, apesar do longo tempo da perseguição e do desprezo.

O mundo inteiro, aturdido como está, perambulando como cego em tiroteio, teria de ouvir essas vozes. Elas nos ensinam que nós, os humanitos, somos parte da natureza, parentes de todos os que têm pernas, patas, asas ou raízes. A conquista europeia condenou por idolatria os indígenas que viviam essa comunhão, e por acreditar nela foram açoitados, degolados ou queimados vivos.

Desde aqueles tempos do Renascimento europeu, a natureza se converteu em mercadoria ou em obstáculo ao progresso humano. E até hoje esse divórcio entre nós e ela persiste, a ponto de ainda existir gente de boa vontade que se comove pela pobre natureza, tão maltratada, tão lastimada, mas vendo-a de fora.

As culturas indígenas a vêem de dentro. Vendo-a, me vejo. O que faço contra ela, faço contra mim. Nela me encontro, minhas pernas também são o caminho que a anda.

Celebremos, pois, esta cúpula da Mãe Terra. E oxalá os surdos ouçam: os direitos humanos e os direitos da natureza são dois nomes da mesma dignidade.

Voam abraços, desde Montevideu.

[*] Eduardo Galeano é jornalista e escritor uruguaio, autor do livro "As veias abertas da América Latina".


Fonte: IPS/Envolverde
Para o Artigo:
http://www.envolverde.com.br/index.php?edt=36#

Para o sítio web:
http://www.envolverde.com.br/index.php?
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domingo, maio 10, 2009

Eduardo Galeano explica o mundo actual

Eduardo Galeano naceu en Montevideo, en 1940. Alí iniciou-se no oficio xornalístico publicando debuxos e crónicas no semanario El Sol. Entre 1959 e 1963 foi xefe de redacción do semanario Marcha e director do diario Época entre 1964 e 1966. Desde principios de 1973, durante os anos da ditadura militar uruguaia, estivo exiliado na Arxentina -onde fundou e dirixiu revísta -Crise- e en Catalunya.. A principios de 1985 regresou a Montevideo, onde actualmente vive, camiña e escribe... [+ Info]


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