Por Rui Pulido Valente [*]
21.09.2015
As democracias, ditas modernas, só o são (democracias) no quadro do sistema em vigor, isto é, no âmbito do sistema em que existe um domínio dos mercados (diga-se do interesse financeiro daqueles que dominam os mercados de capitais e bens transaccionáveis). Poder-se-ia dizer do sistema capitalista. É-o de facto, mas acontece que hoje, e sempre, houve perspetivas diferenciadas sobre o próprio capitalismo.
À medida que os problemas se vão agravando e as soluções se revelam ineficazes, todos compreendemos que o que divide as pessoas e os partidos são os diferentes objetivos de fundo, uma vez que também todos percebemos que não é possível conciliar o inconciliável: a justiça social é incompatível com a sede de lucros das multinacionais (esse dinheiro não é para investir na sociedade e os impostos pagos, muitas vezes, também não); o interesse das pequenas e médias empresas não é conciliável com a ganância da banca quando aplica as taxas de juro nos empréstimos (também esse dinheiro não é aplicado socialmente nem os impostos que os bancos pagam); os paraísos fiscais não trazem vantagens para as populações, mas sim, para os donos do capital; a corrupção é uma ferramenta de trabalho fundamental para a manutenção do atual sistema económico e político que não tem qualquer benefício para o cidadão comum [a ideologia, estúpido!!!].
Podemos concluir então o que já há muito é evidente. Há interesses antagónicos inconciliáveis pelo que qualquer política passa por definir quais os interesses que devem prevalecer: os daqueles que controlam o dinheiro e dominam a finança, ignorando toda a sociedade e os seus valores de justiça, equidade, bem comum, desenvolvimento equilibrado, ambiente sustentável, transparência, ética, seriedade, respeito pela diferença; ou os da maioria da população, que sabe que as assimetrias atuais são sempre impeditivas de poder cumprir aqueles valores básicos da vida em comum.
Será possível governar sem corrupção? Parece que no atual sistema, tal não é possível, basta olhar para os exemplos que todos os dias nos aparecem à frente!
O caso da Grécia mostra que a ideologia dominante quer manter a ideia de que o sistema apenas funciona com aquelas regras, sendo inevitável a austeridade para alguns enquanto que outros recebem os juros resultantes de um modelo de desenvolvimento que não tem por base os próprios recursos nacionais e políticas de industrialização e de crescimento económico bem definidas.
O sistema capitalista tem outras variantes, a democracia tem outras dimensões, a sociedade exige novos modelos de organização. Quando se refere que não há alternativa ao capitalismo mantemo-nos num quadro que tem por base o paradigma de uma sociedade sempre em crescimento baseada nas assimetrias entre ricos e pobres e no domínio do dinheiro. Se o paradigma mudar as alternativas surgem e não é necessário acabar primeiro com o capitalismo pois ele próprio encontrará um caminho que levará a um sistema de sociedade diferente.
O que temos presenciado é a paranoia de alguns grupos políticos quanto à possibilidade de existirem soluções alternativas que deixem de se basear nos valores do individualismo, do nacionalismo, da xenofobia e da ditadura do dinheiro.
Quando se diz que um partido é contra o sistema como o caso do Syriza ou do Bloco de Esquerda estamos a dizer que são contra o que hoje personifica o sistema capitalista com toda a carga de valores anti-sociedade (ou anti-sociais) que acarreta, traduzida também por inúmeras figuras públicas corruptas, pouco sérias, vivendo na ostentação, contradizendo-se sistematicamente (são precisos nomes?). Chegamos então aos partidos e à prática democrática que também está excessivamente marcada por este sistema capitalista que de democrático tem pouco, escondendo-se na sua burocracia e nas leis, quando necessário (e nas regras).
No seu livro “Rebooting Democracy” ou na versão portuguesa “Reinventar a Democracia”, Manuel Arriaga, investigador português a trabalhar em Inglaterra e nos Estados Unidos, refere várias experiências de democracia participativa e fala claramente da necessidade de mudança na prática partidária e no sistema partidário. Não são exemplos teóricos que ele refere mas práticas concretas com bons resultados em países tão próximos como Malta, Irlanda, Canada, Austrália e Estados Unidos.
Há, hoje, problemas nas sociedades que não têm resolução através do sistema político tradicional, que exigem outras formas de participação dos cidadãos e novas oportunidades de intervenção cívica. Mas para tal é necessário que os carreiristas abram mão do seu poder e o cidadão deixe de depositar nos políticos, de 4 em 4 anos, o tratamento exclusivo dos problemas e a defesa dos seus interesses.
Também muitos já compreenderam que o futuro das sociedades passa por uma redefinição do papel do Estado nas democracias. A ideia de que não é necessário um poder público interventivo e responsável por algumas áreas e as experiências de Reagan e Tatcher, já deixaram as suas marcas negativas. Há quem queira insistir nessas receitas mas a crise veio criar-lhes novas dificuldades. Mesmo na discussão do Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento o problema passa pelo total desrespeito pela soberania dos Estados, dando mais força e valor às multinacionais do que aos próprios países. Será?
Havia quem anunciasse o fim da História! Há os que agora pretendem o fim da Política, impedindo os Estados e os seus cidadãos de terem uma palavra no futuro das suas pátrias. São aqueles que se vendem para obterem uma reforma dourada! Mas morrem como os outros! E não mudam o Mundo, pelo contrário, são avessos à mudança!
21 de Setembro, 2015 - 09:32h em http://www.esquerda.net/
Artigo publicado em portalegre.bloco.org em 16 de setembro de 2015
[*] Rui Pulido Valente, é professor do Instituto Politécnico de Portalegre e da Escola Superior de Gestão e Tecnologia. Cabeça de lista do Bloco de Esquerda nas eleições legislativas de 2015, pelo círculo de Portalegre, como candidato Independente.
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21.09.2015
As democracias, ditas modernas, só o são (democracias) no quadro do sistema em vigor, isto é, no âmbito do sistema em que existe um domínio dos mercados (diga-se do interesse financeiro daqueles que dominam os mercados de capitais e bens transaccionáveis). Poder-se-ia dizer do sistema capitalista. É-o de facto, mas acontece que hoje, e sempre, houve perspetivas diferenciadas sobre o próprio capitalismo.
À medida que os problemas se vão agravando e as soluções se revelam ineficazes, todos compreendemos que o que divide as pessoas e os partidos são os diferentes objetivos de fundo, uma vez que também todos percebemos que não é possível conciliar o inconciliável: a justiça social é incompatível com a sede de lucros das multinacionais (esse dinheiro não é para investir na sociedade e os impostos pagos, muitas vezes, também não); o interesse das pequenas e médias empresas não é conciliável com a ganância da banca quando aplica as taxas de juro nos empréstimos (também esse dinheiro não é aplicado socialmente nem os impostos que os bancos pagam); os paraísos fiscais não trazem vantagens para as populações, mas sim, para os donos do capital; a corrupção é uma ferramenta de trabalho fundamental para a manutenção do atual sistema económico e político que não tem qualquer benefício para o cidadão comum [a ideologia, estúpido!!!].
Podemos concluir então o que já há muito é evidente. Há interesses antagónicos inconciliáveis pelo que qualquer política passa por definir quais os interesses que devem prevalecer: os daqueles que controlam o dinheiro e dominam a finança, ignorando toda a sociedade e os seus valores de justiça, equidade, bem comum, desenvolvimento equilibrado, ambiente sustentável, transparência, ética, seriedade, respeito pela diferença; ou os da maioria da população, que sabe que as assimetrias atuais são sempre impeditivas de poder cumprir aqueles valores básicos da vida em comum.
Será possível governar sem corrupção? Parece que no atual sistema, tal não é possível, basta olhar para os exemplos que todos os dias nos aparecem à frente!
O caso da Grécia mostra que a ideologia dominante quer manter a ideia de que o sistema apenas funciona com aquelas regras, sendo inevitável a austeridade para alguns enquanto que outros recebem os juros resultantes de um modelo de desenvolvimento que não tem por base os próprios recursos nacionais e políticas de industrialização e de crescimento económico bem definidas.
O sistema capitalista tem outras variantes, a democracia tem outras dimensões, a sociedade exige novos modelos de organização. Quando se refere que não há alternativa ao capitalismo mantemo-nos num quadro que tem por base o paradigma de uma sociedade sempre em crescimento baseada nas assimetrias entre ricos e pobres e no domínio do dinheiro. Se o paradigma mudar as alternativas surgem e não é necessário acabar primeiro com o capitalismo pois ele próprio encontrará um caminho que levará a um sistema de sociedade diferente.
O que temos presenciado é a paranoia de alguns grupos políticos quanto à possibilidade de existirem soluções alternativas que deixem de se basear nos valores do individualismo, do nacionalismo, da xenofobia e da ditadura do dinheiro.
Quando se diz que um partido é contra o sistema como o caso do Syriza ou do Bloco de Esquerda estamos a dizer que são contra o que hoje personifica o sistema capitalista com toda a carga de valores anti-sociedade (ou anti-sociais) que acarreta, traduzida também por inúmeras figuras públicas corruptas, pouco sérias, vivendo na ostentação, contradizendo-se sistematicamente (são precisos nomes?). Chegamos então aos partidos e à prática democrática que também está excessivamente marcada por este sistema capitalista que de democrático tem pouco, escondendo-se na sua burocracia e nas leis, quando necessário (e nas regras).
No seu livro “Rebooting Democracy” ou na versão portuguesa “Reinventar a Democracia”, Manuel Arriaga, investigador português a trabalhar em Inglaterra e nos Estados Unidos, refere várias experiências de democracia participativa e fala claramente da necessidade de mudança na prática partidária e no sistema partidário. Não são exemplos teóricos que ele refere mas práticas concretas com bons resultados em países tão próximos como Malta, Irlanda, Canada, Austrália e Estados Unidos.
Há, hoje, problemas nas sociedades que não têm resolução através do sistema político tradicional, que exigem outras formas de participação dos cidadãos e novas oportunidades de intervenção cívica. Mas para tal é necessário que os carreiristas abram mão do seu poder e o cidadão deixe de depositar nos políticos, de 4 em 4 anos, o tratamento exclusivo dos problemas e a defesa dos seus interesses.
Também muitos já compreenderam que o futuro das sociedades passa por uma redefinição do papel do Estado nas democracias. A ideia de que não é necessário um poder público interventivo e responsável por algumas áreas e as experiências de Reagan e Tatcher, já deixaram as suas marcas negativas. Há quem queira insistir nessas receitas mas a crise veio criar-lhes novas dificuldades. Mesmo na discussão do Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento o problema passa pelo total desrespeito pela soberania dos Estados, dando mais força e valor às multinacionais do que aos próprios países. Será?
Havia quem anunciasse o fim da História! Há os que agora pretendem o fim da Política, impedindo os Estados e os seus cidadãos de terem uma palavra no futuro das suas pátrias. São aqueles que se vendem para obterem uma reforma dourada! Mas morrem como os outros! E não mudam o Mundo, pelo contrário, são avessos à mudança!
21 de Setembro, 2015 - 09:32h em http://www.esquerda.net/
Artigo publicado em portalegre.bloco.org em 16 de setembro de 2015
[*] Rui Pulido Valente, é professor do Instituto Politécnico de Portalegre e da Escola Superior de Gestão e Tecnologia. Cabeça de lista do Bloco de Esquerda nas eleições legislativas de 2015, pelo círculo de Portalegre, como candidato Independente.
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